EDUCAÇÃO CRISTÃ
Pr. Eliézer Cavalcante
1 Definição
Há vários conceitos de educação, e
conforme o conceito que se tem, a educação se processa. A palavra educação vem
do latim ex ou e (de dentro de, para fora de) e, ducere (tirar,
levar). Educação significa então o
processo de se tirar de dentro de uma pessoa, ou levar para dentro de uma
pessoa. Num conceito amplo e genérico, esta supõe o processo de desenvolvimento
integral do homem, em suas capacidades físicas, intelectuais e morais. Ela não
visa somente à formação de habilidades, mas também do caráter e personalidade
social. Portanto a educação é um processo que dura à vida inteira, podendo se
dar em um âmbito formal (sistemático), isto é, existe uma ordenação ou método previamente
preparado e visa, em primeira instância a transmissão de conhecimentos; ou
não-formal (assistemática), que ocorre sem ordenação ou método visando
prioritariamente à transformação de vidas.
A Educação Cristã, foi muito bem
definida, em termos bem simples, pelo Dr. Perry G. Downs, grande expoente da
Educação Cristã na atualidade atuando como professor na Trinity Evangelical
School, quando este a apresenta como sendo “o ministério de levar o crente
à maturidade em Jesus.” (DOWNS, 2001, p. 17). Roswitha Massambani complementa
bem esta idéia quando faz, em sua apostila sobre Escola Bíblica, uma citação do
Dr. Lawrence O. Richards onde este diz:
Na Educação cristã não
importa somente ensinar a palavra, importa como a palavra é ensinada. A
educação cristã quer ajudar as pessoas a tornarem-se o que seus professores são, não a saberem o
que seus professores sabem. O jeito mais eficaz de edificar homens e mulheres
para serem iguais a Cristo é: Fazer discípulos (RICHARDS apud MASSAMBANI,
2002, p. 3).
Vale portanto destacar, antes de passar para o estudo do discipulado
cristão, o resumo sobre uma estrutura de filosofia de educação cristã
apresentado pelo Dr. Michael S. Lawson, que se segue:
1. ‘Por que ensinar?’ Cristo
comissiona nossos esforços, enquanto Deus desafia nossa comunicação de ser
criativo.
2. ‘Que resultados devemos
esperar?’ Amor, moralidade, estabilidade teológica e serviço combinam-se para
forjar a mera do ensino cristão.
3. ‘Quem é o mediador do ensino
cristão?’ Nenhum outro tipo de ensino proporciona um capacitador divino como o
Espírito Santo.
4. ‘Como devemos ensinar?’ Os
professores cristãos desenvolvem-se à medida que criativamente administram
motivação, tempo, conteúdo, espaço e participação.
5.
‘A
quem devemos ensinar?’ Para o professor cristão, os alunos apresentam-se numa
diversidade de pacotes composta de homens naturais e dois tipos de crentes
espirituais.
(LAWSON in GANGEL & HENDRICKS, 1999, p.
67).
2 Discipulado
Cristão
Uma definição boa,
funcional e abrangente de discipulado é dada por Tony Evans, PhD. pelo Dallas
Theological Seminary, em seu livro Discipulado Espiritual Dinâmico
quando este diz: “Discipulado é aquele processo de desenvolvimento da igreja
local que progressivamente conduz os cristãos da infância para a maturidade
espiritual, de tal maneira que se tornam capazes de repetir o processo com
outra pessoa.” (EVANS, 2000, p. 14).
Isto implica num processo
de ensino no qual o aprendiz ou aluno é conduzido a determinado alvo. Para se
tornar discípulo, uma pessoa deve adquirir e dominar um conjunto de
conhecimentos. No entanto, conhecimento apenas não faz de uma pessoa um
discípulo. Esta precisa, além do conhecimento, de saber como obter essa
informação e o que fazer com ela. O discipulado implica no desenvolvimento de
aptidões. Por isso Jesus, depois de ensinar seus discípulos, conduzia-os a
situações nas quais pudessem aplicar o que estavam aprendendo. Quando Jesus
disse no capítulo dez do evangelho de
Mateus, versículos vinte e quatro e vinte e cinco, que os discípulos
devem ser como seu mestre, ele estava esclarecendo a seus discípulos que ser
discípulo é um processo. Tony Evans ainda acrescenta que “este processo chamado
de discipulado relaciona-se ao desenvolvimento espiritual, não com o tempo em
que você é cristão.” (EVANS, 2000, p. 19). E ele então complementa: “Se o
discipulado é um processo de desenvolvimento espiritual, então para qual alvo
temos de avançar? Para a maturidade espiritual: tornar-se um discípulo adulto,
bem preparado de Jesus Cristo.” (EVANS, 2000, p. 21).
A Grande Comissão deixada
por Jesus a seus discípulos, que foi retransmitida à Igreja por meio destes, e
da qual os jovens fazem parte; está descrita no Evangelho de Mateus, capítulo
vinte e oito, versículos dezoito a vinte que
diz: “Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me
foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações,
batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a
guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos
os dias até à consumação do século.” Ao comentar este texto Ed René Kvitz diz
que “o discipulado se faz através de relacionamentos, pois discipular é
‘ensinar a guardar todas as coisas que o Senhor Jesus mandou, e não apenas
ensinar o que o Senhor Jesus mandou.” (KVITZ, 2000, p. 58 – 59). Perry G. Downs
diz que “nossa tarefa é descobrir os modos mais eficazes de cumprir a Grande
Comissão aprendendo a educar efetivamente.” (DOWNS, 2001, p. 23). Michael S.
Lawson, professor e catedrático do Departamento de Educação Cristã no Dallas
Theological Seminary, ainda acrescenta
A característica mais importante da Grande Comissão para os
professores cristãos gira em torno do aluno. A frase ‘fazei discípulos’ na
verdade significa fazei ou desenvolvei aprendizes. O próprio mandato para o
ensino cristão dado por Cristo envolve mais do que disseminar informações.
Baseado nesse texto bíblico, o professor cristão tem de desenvolver aprendizes.
Os mestres cristãos lutam com sua tarefa até que seus alunos se tornem
discípulos de Jesus Cristo (LAWSON in GANGEL & HENDRICKS, 1999, p.
67).
Sendo assim percebe-se a importância da
análise bíblica sobre discipulado que se segue; onde torna-se possível ver as
seguintes definições e implicações (a exegese que se segue é baseada em aula e material
não-publicado do curso de Discipulado Avançado do Treinamento Para Líderes de
Juventude, ministrado pelo Pr. Nelson Bomilcar, em janeiro de 2002; acrescida de
material da Bíblia on Line; Manual dos Tempos & Costumes Bíblicos; DITAT e
DITNT):
NO ANTIGO TESTAMENTO:
No Antigo Testamento manqanw (discipular/discipulado) se emprega
cerca de quarenta vezes. Emprega-se vinte e oito vezes para interpretar dml, que significa
acostumar-se a, familiarizar-se com, aprender. Na maioria das passagens não
temos ênfase teológica especial. Entretanto vê-se claramente esta ênfase
teológica de manqanw em
Deuteronômio, onde Israel corre o risco de esquecer a vontade de hwhy (SENHOR), abrindo mão de sua eleição e das promessas
de salvação (Dt. 6:10 – 12; 8: 17; 11: 1). Israel então precisa mais uma vez de
aprender a obedecer e fazer a vontade de Deus (Dt. 4: 10; 14: 23; 17: 19; 31:
12 – 13). O alvo é “temer ao SENHOR”. Para os aprendizes significa entender e
obedecer a Torá (Dt. 4: 14), que continha a história total das ações de
salvação da vontade de Deus. O resultado é
a aceitação interior desta vontade (Dt. 30:14).
Na septuaginta, é
importante destacar que a falta de qualquer vocabulário do Antigo Testamento
para “aprendiz”, tal como se vê o relacionamento mestre-aluno, se
vincula com a consciência de Israel quanto a ser ele um povo eleito.
Todos que atendem a Moisés e aos profetas não são chamados alunos, mas servos.
Josué é o servo de Moisés (Ex. 24: 12; Nm 11:28); Elizeu é o servo de Elias (1
Rs. 19:19); Geazi é o servo de Eliseu (2 Rs. 4: 12); Baruque é o servo de
Jeremias (Jr. 32: 12 – 13). O que se realça não é a autoridade ou personalidade
de algum homem, mas a palavra de Deus.
NO JUDAÍSMO RABÍNICO:
Já
no judaísmo rabínico o quadro é bastante diferente. É fundamental o aprendizado
da totalidade da tradição hebraica (escritos bíblicos, Tora oral) diretamente
do rabino, porque através de sua autoridade e seu acesso direto às
Escrituras, seria facilitado o escutar correto e o entender correto. Era
como um mediador entre o aprendiz e a Tora dando uma interpretação mais
correta.
O aprendiz absorveria o conhecimento
examinando de modo crítico. Somente aquele que estudou e serviu sob supervisão
e autoridade de um estudioso judaico num período extenso, poderia se tornar um
“mestre” com autoridade para ensinar.
NO NOVO TESTAMENTO:
No Novo Testameto o verbo manqanw ocorre vinte e cinco vezes, das quais
apenas seis são nos Evangelhos. Didaskw,
“ensinar” é muito mais comum. Já o substantivo maqhthj (discípulo)
ocorre em torno de duzentos e sessenta vezes, exclusivamente nos Evangelhos e
Atos. Manqanw indica uma total devoção
a alguém, no discipulado. O uso secular da palavra no sentido de aprendiz,
estudante, não é presente nesses. Deve-se entender que textos como os de Mt.
10: 24 – ss e Lc. 6: 40, que dizem “o discípulo não está acima do seu
mestre” se refere não apenas ao relacionamento com o professor, mas entre o
maqhthj ((((discípulo) e o Kurioj (Senhor), Jesus. A Manqanw também está relacionado o aprender a vontade de Deus,
conforme Jesus o transmite a seus ouvintes (Mt. 9: 13; 11: 29; Jo. 6: 45). O
próprio Jesus é o ponto de referência, sendo que somente nEle que se pode
conhecer a vontade de Deus (Mt. 11: 29).
Manqanw quando usado nas
epístolas, refere-se à “mensagem ou ensino” de Jesus (Rm. 16: 17; Ef. 4: 20; 2
Tm. 3: 14).
É indiscutível que Jesus chamou os homens para serem Seus discípulos e
seguidores. A natureza do discipulado foi baseada em Sua própria pessoa. Jesus
inicialmente surgiu como um rabino ou escriba, ensinava e debatia como um
destes (Mc. 12: 18 – ss). Ainda que muitos não o reconhecessem como tal por não
ter passado por escola rabínica (Mc. 6: 2; Jo. 7: 15), seus discípulos o
chamavam de “Rabi” (Mc. 9: 5; 11: 21; Jo. 1: 38; 4:31). No caso de Jesus, o
diferencial para uma caminhada como discípulo e não somente numa relação
mestre-aluno, era a sua chamada (Lc. 5: 1 – 11; Mt. 5: 18 – ss). Jesus
lançou mão desta iniciativa e chamou os homens para aceitarem o discipulado
(Mc. 1:17; 2: 14; Lc. 9:59 – 62; Jo. 1: 43).
Na chamada feita por
Jesus, não se trata de um relacionamento de aprendizagem do qual o discípulo
pode posteriormente se separar como mestre (Mt. 23: 8). Seguir a Jesus exige
que o discípulo se sacrifique de modo incondicional a vida inteira (Mt. 10: 37;
Mc. 3: 31 – 35; Lc. 14: 26 – 27; 9: 57 – 62) para a totalidade se sua vida (Mt.
10: 24 – 25; Jo. 11: 16). Na chamada ao discipulado sempre está incluída a
ordem de servir. Serviço inclui o ser pescadores de homens (Mc. 1: 17 e Lc. 5: 10).
Devido à chegada do reino, teriam que buscar homens para o reino vindouro, por
meio do testemunho e pregação do evangelho, trabalhando em nome de Jesus (Mt.
16: 15 – ss). No serviço então, os discípulos estarão expostos aos mesmos
perigos que Jesus (Mc. 10: 32). Jesus andou à frente de seus discípulos em
todas as situações, inclusive no sofrimento.
Nelson Bomilcar ainda acrescenta a esse estudo quatro considerações:
a. O discipulado precisa ser
repensado e desmistificado, principalmente diante de tanta confusão observada
na história da igreja e em nossa geração, com modelos e programas centralizados
em estruturas e instituições eclesiásticas.
b. O chamado de Jesus para o
discipulado é imperativo e evoca nossa vocação e missão. Fomos chamados para
uma caminhada ao lado de Jesus, aprendendo de Sua vida e Seus ensinos, para
conhecermos e fazermos a vontade de Deus, ministério que foi desvendado em
Cristo (Ef. 1: 9) e devemos investir nosso tempo e vida em outras pessoas.
c.
O discipulado visa formar uma pessoa na cultura do Reino de Deus, para
que a pessoa conheça, guarde e viva os mandamentos de Jesus.
d.
Importante
não esquecermos que o discipulado é resultado da evangelização, resposta de
pessoas ao conteúdo da mensagem do evangelho que temos de anunciar. O conteúdo
essencial é: Cristo morreu, por amor, pelos nossos pecados, foi sepultado e ao
terceiro dia ressuscitou, ressurreição confirmada pelo testemunho histórico de
várias pessoas, registrado nas Escrituras Sagradas.
(BOMILCAR,
2002, p. 3 – 4).
Um dos grandes problemas que se tem hoje no meio evangélico é a
compreensão errônea do que seja discipulado. Na maioria das vezes o discipulado
é encarado como sendo apenas o acompanhamento inicial de um recém convertido.
No entanto, nos evangelhos, como foi demonstrado, o discipulado começa com o
chamado à fé e prossegue até o discípulo possa alcançar a maturidade. A
maturidade não é a disposição de viver de acordo com determinados costumes ou
de possuir determinado conhecimento doutrinário. Maturidade é alguém estar
perfeitamente habilitado para desenvolver o ministério, ou serviço, para o qual
foi chamado.
Ainda sobre o estudo do termo maqhthj (discípulo)na Bíblia, Christian T. Gillis
(2002, p. 1 – 2), ex-diretor nacional de treinamento da Mocidade Para Cristo;
diretor da Escola de Liderança e Ministério; professor no Seminário Bíblico
Mineiro, Treinamento Para Líderes de Juventude (MPC), e outros; apresenta as
seguintes considerações (que foram rearranjadas para atingir aos fins
específicos do trabalho), utilizando o método de “verificar como a palavra foi
empregada no restante do livro [Evangelho de Mateus] bem como nos dias de
Jesus” (GILLIS, 2002, p. 47):
Uso comum do termo: Mt. 9: 14 (Vieram, depois, os discípulos de João e
lhe perguntaram: Por que jejuamos nós, e os fariseus muitas vezes, e teus
discípulos não jejuam?)
O
trabalho demonstrará então que Jesus:
1.
Pregou às multidões
2.
Chamou alguns discípulos dentre as multidões e passou a
ensiná-las
3.
Escolheu entre seus discípulos alguns para liderança do
futuro movimento
1.
Jesus pregando as multidões (Mt. 4: 12 – 17):
O verbo pregar nos Evangelhos só aparece relacionado
às multidões
O verbo pregar só aparece no início do ministério de
Jesus
Curas, milagres e libertação acontecem
predominantemente no contexto da multidão
2.
Jesus chamando discípulos (Mt. 4: 18 – ss; 8: 18
– 22; 9: 9):
Depois de algum tempo pregando, Jesus começou a chamar
pessoas para serem seus alunos (discípulos). Esse grupo aparece com frequência
nos Evangelhos: 70, 120, 500, etc...
Para esse grupão de discípulos a ênfase é no ensino, na formação de
caráter. Raramente acontecem curas ou milagres dentro desse grupo.
3.
Jesus seleciona líderes (Mt. 10):
Depois de conhecer um pouco melhor seus seguidores
passou a selecionar dentre eles alguns para que estes se tornassem líderes.
A este grupo, constituído por doze de seus discípulos,
Jesus deu ensino ainda mais específico.
O trabalho entende então que a chamada para ser e
para fazer discípulos não é uma opção, é uma responsabilidade de todos os
crentes. Edward B. Berkey acrescenta que “o crescimento e a multiplicação da
igreja é uma incumbência de todos os membros, que devem levar a sério esse
mandato.” (BERKEY, 2003, p. 39). O trabalho com a multidão é apenas um estágio
para se chegar a este. Entretanto, alguns haverão de passar por um “discipulado
avançado” para se tornarem líderes.
3 Planejamento Estratégico
Projeto em
PowerPoint
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